Dom Antonio Augusto Dias Duarte
Bispo Auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro
Bispo Auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro
Um escritor inglês, convertido ao cristianismo na primeira metade do século XX, G. K. Chesterton, escrevia num dos seus livros (O amor ou a força do sino) que o nosso mundo moderno caracteriza-se, entre muitas outras notas, pelo absurdo no campo dos valores. Dava um exemplo bastante significativo desse absurdo ao apontar os educadores – que sem dúvida nenhuma são valiosos dentro da sociedade – como pessoas mais consideradas do que os pais, porque os professores ensinam o que é necessário para se ter uma posição cultural e profissional dentro da vida.
Os pais, entretanto, são muito mais do que os mestres, pois são os que cooperam com Deus para que se transmita o dom da vida dos filhos e para que estes sejam educados para a vida na sua integridade e totalidade.
A educação privada na família pode ter um horário e uma qualidade bem superior a das melhores escolas públicas e privadas, e por isso, faço um retorno ao grande escritor inglês há pouco mencionado. Chesterton, na mesma obra literária sobre o amor afirmava o seguinte:
Os pais, entretanto, são muito mais do que os mestres, pois são os que cooperam com Deus para que se transmita o dom da vida dos filhos e para que estes sejam educados para a vida na sua integridade e totalidade.
A educação privada na família pode ter um horário e uma qualidade bem superior a das melhores escolas públicas e privadas, e por isso, faço um retorno ao grande escritor inglês há pouco mencionado. Chesterton, na mesma obra literária sobre o amor afirmava o seguinte:
“Todo o mundo sabe que os mestres têm uma tarefa cansativa e frequentemente heróica, mas não é injusto recordar que nesse sentido têm uma tarefa excepcionalmente feliz.
O cínico diria que o mestre tem a sua felicidade em não ver os resultados do seu próprio ensinamento.
Prefiro limitar-me a dizer que ele não tem a preocupação acrescentada (à sua tarefa) de ter que estima-lo desde o extremo oposto. O mestre raramente está presente quando o estudante morre... raras vezes encontra-se quando a ‘cortina cai’”.
O cínico diria que o mestre tem a sua felicidade em não ver os resultados do seu próprio ensinamento.
Prefiro limitar-me a dizer que ele não tem a preocupação acrescentada (à sua tarefa) de ter que estima-lo desde o extremo oposto. O mestre raramente está presente quando o estudante morre... raras vezes encontra-se quando a ‘cortina cai’”.
Os pais, porém, têm o grave e grato dever de educar os filhos, sobretudo no período da adolescência e da juventude, para que cheguem a este momento da ‘queda da cortina da vida’ como pessoas maduras, íntegras, humanamente completas, e não só profissional, científica, cultural e socialmente formados.
Conhecemos cada vez com mais detalhes, inclusive dolorosos, a enorme influência que a tecnologia dos instrumentos de comunicação social (televisão, internet, videogames, celular, orkut, facebook, twitter, revistas eletrônicas, youtube, etc.) exerce sobre o tempo e a mente dos pais e dos filhos.
Ainda que os números variem segundo os países e o consumo da televisão venha diminuindo em benefício da internet e outros meios que compõem as redes sociais, vale a pena mencionar que, por exemplo, a juventude européia vê 25 horas de televisão por semana e que nos Estados Unidos esse tempo é medido por dia (8 horas diárias de televisão são consumidas por crianças e adolescentes entre os 8 e 17 anos).
O crescimento exponencial do uso da internet é notório. Enquanto, em 2000, 37% dos jovens italianos tinham acesso a esse meio tecnológico, em 2008, na faixa etária 12 a 14 anos, esse índice atingiu o nível de 95%.
O que se percebe no nosso mundo midiático é o “império da Comunicação” estendendo-se com mais rapidez e profundidade que os antigos impérios do Ocidente e do Oriente. O espantoso de toda essa expansão das redes sociais, benéficas com certeza desde que sob um ponto de vista informativo, é que tanto a família quanto os poderes públicos têm uma preocupação bem menor com essa “dieta midiática escolhida pela juventude” em relação aos problemas de saúde causados pela alimentação atual (vide, por exemplo, a questão da obesidade, da bebida e dos transgênicos).
Na família cabe aos pais o controle dessa “dieta” para que os filhos(as) não estejam com um "balanço nutritivo deficiente", por não saberem usar convenientemente esses meios tecnológicos proporcionados pelo progresso e facilitados pela economia de mercado.
Permitem-me ler o texto que reflete perfeitamente esse “balanço nutritivo deficiente” que deve ser bem controlado dentro de uma família que é realmente educadora e evangelizadora.
“Estava baixando do iTunes o trecho de um filme para vê-lo no meu Ipod vídeo enquanto falava com meu primo na Escócia via Skype. Entretanto transmitia por bluetooh um documento word desde meu celular para a impressora e me questionava por que ainda não tenho o navegador Satelital Tom Tom no meu Gps Treo, fundamental para andar pela cidade na minha moto Vespa. Depois disso li no meu Zagot os editoriais do Washington Post e informei-me rapidamente que filmes passavam nos cinemas do meu bairro e não me interessei por nenhum deles nessa tarde. De repente, sempre na Internet, chega-me uma notícia de agência que diz: ‘primeira mensagem natalina do Papa: homem tecnológico sofre risco de atrofia espiritual’.”
O caráter irônico desse texto refere-se:
1. Balanço imediato: cada novo meio de comunicação introduz certamente nas famílias um crédito científico-cultural, mas traz com ele, simultaneamente, um débito humano incrível. Exemplo:
- desestruturação da família;
- diminuição do pensamento verbal e lógico em “benefício” do pensamento visual e virtual;
- crescimento verificado de dois distúrbios que se refletem no lar e nas escolas: DDA (Desordem de Déficit de Atenção) e DHA (Desordem de Hiperatividade).
- uma ‘paz familiar’ artificial, uma vez que cada membro da família está ‘plugado’ num aparelho eletrônico e não mais discutem... mas também não mais dialogam, não mais se conhecem na intimidade, o mergulho no mundo virtual e alheio aos outros cria um estilo de vida e de pensamentos que acaba modificando os critérios de valorização e, o que é mais grave, gera conteúdos mentais e emocionais que contradizem a natureza e o papel da família natural.
2. Papa Bento XVI – Mensagem à XLI Jornada Mundial da Comunicações Sociais – 2007:
“A educação para os meios deve ser positiva. Colocando as crianças (jovens) diante do que é excelente, estética e eticamente, se lhes ajuda a desenvolver a própria opinião, a prudência e a capacidade de discernimento... A beleza, espelho do divino, inspira e vivifica os corações e as mentes dos jovens, enquanto que a feiúra e a vulgaridade têm um impacto deprimente nas atitudes e comportamentos”.
Uma das belezas existentes na família é a formosura das conversas – verdadeiros diálogos –, que não consiste só em instruções, tampouco só regras de vida. Creio que na nossa atualidade cultural e científica, influenciada em demasia pela comunicação de massas deveria emergir na família e desde a família um conteúdo mais precioso do diálogo humano, que consistiria em algo que ainda se pode dizer e não mais em algo que se deve informar ou em algo que só se deve visitar ou mostrar ou até vender.
Explico-me melhor. Os pais, os avós, os adultos em geral devem preencher suas conversas, seus diálogos, com temas simples, sugestivos e atraentes, pois a juventude – também a infância nos dias de hoje – sabe muitas coisas, conhece muitas novidades tecnológicas e culturais, sabe o que não quer mais, mas ignora profundamente algo que ainda se pode – se deve – dizer, isto é, o novo presente no cotidiano da sua vida juvenil.
A igreja católica é depositária e transmissora do Evangelho, isto é, da Boa Nova, que é precisamente a profunda comunhão de vida e de amor que Deus estabeleceu com todos os homens e mulheres através da revelação da sua Intimidade e da sua Encarnação.
Essa Revelação contínua e gradual consiste em um olhar interior que sabe distinguir muito bem aquilo que vem do alto e que está acima de tudo.
Na Igreja doméstica construída sobre o matrimônio entre um homem e uma mulher e aberta à transmissão da vida e da educação dos filhos também há uma profunda comunhão de vida e de amor querida por Deus, e chegou o momento histórico-cultural – também eclesial – da revelação, via diálogo (não via internet, nem redes sociais), daquilo que vem do alto e está acima de tudo, que é o novo diário, que é a nova pessoa que cada um é a medida que os dias, os meses, os anos de vida transcorrem.
Que conteúdo tão pobre está presente na ‘mesmice’ das informações obtidas via internet – violência, sexo, pornografia, linguagem sintetizada, zipada, comentários negativos, teses de mestrado ou doutorado copiadas, críticas e calúnias, anti-valores, etc... –; que riqueza tão grande nesses diálogos intra-familiares e inter-familiares onde os interlocutores – esposos, pais – filhos, irmãos, parentes – ‘mergulham’ no ‘twitter’ da intimidade e revelam o que está acima de tudo e vem do alto: alegrias, tristezas, ideais, vitórias, derrotas, quedas e ascensões, conquistas de valores, encontros inesquecíveis... conhecimentos essenciais.... Deus!
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