A parábola dos trabalhadores enviados para trabalhar na vinha em horas diferentes do dia sempre criou perplexidade para as pessoas que a leem com os olhos voltados apenas para o interesse do capital. Estamos no XXV domingo do Tempo Comum e o texto do Evangelho é Mt 20,1-16a). A pergunta que ressoa no coração das pessoas é se é aceitável o modo de fazer do patrão que dá o mesmo pagamento para quem trabalhou um dia inteiro e a quem trabalhou uma hora por dia. Não viola, isso, o princípio da justa recompensa?
Os sindicatos se levantariam em coro, hoje, se alguém fizesse o que fez esse patrão. A dificuldade surge a partir de um mal-entendido. Considera-se o problema da recompensa em abstrato ou, e, em geral, em referência à recompensa eterna no céu. Visto dessa maneira, ele realmente contradiz o princípio de que Deus "dá a cada um segundo suas obras" (Rm 2, 6).
Mas Jesus está se referindo a uma situação concreta, a um caso muito específico. O único dinheiro que é dado a todo o Reino dos Céus que Jesus trouxe à Terra é a oportunidade de fazer parte da salvação messiânica. A parábola começa dizendo: "O reino dos céus é semelhante a um proprietário que saiu...". O problema é, mais uma vez, aquele da posição de judeus e gentios, ou de justos e pecadores, em relação à salvação anunciada por Jesus. Também se os pagãos (respectivamente, os pecadores, os cobradores de impostos, as prostitutas etc.) somente diante da pregação de Jesus decidiram-se por Deus, enquanto antes estavam distantes ("ociosos") e nem por isso ocuparão uma posição diferente no Reino ou inferior. Também esses sentarão à mesma mesa e desfrutarão da plenitude dos bens messiânicos. Na verdade, porque esses se demonstram mais dispostos a aceitar o Evangelho, do que aqueles chamados "justos"; eis que se realiza aqui o que Jesus diz na conclusão da parábola de hoje: "Os últimos serão os primeiros e os primeiros últimos".
A parábola contém um ensinamento de ordem espiritual da máxima importância: Deus chama a todos e chama em todas as horas. O problema, é, em suma, da chamada, mais do que aquele da recompensa. Esta é a maneira com que esta parabóla foi utilizada na exortação de João Paulo II sobre a "vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo" (Christifideles laici). "Os fiéis leigos pertencem àquele povo de Deus que é prefigurado aos trabalhadores da vinha... Ide também vós para a minha vinha. A chamada não é apenas para os pastores, sacerdotes, religiosos e religiosas, mas estende-se a todos. Mesmo os fiéis são pessoalmente chamados pelo Senhor "(CL 1-2).
Mas assim mesmo podemos reflletir sobre uma questão social importante: o problema do desemprego. Quando perguntou ao mestre: "Por que estais aqui ociosos o dia todo"? Os trabalhadores disseram: "Ninguém nos contratou". Esta resposta poderia ser dada hoje por milhões de desempregados que se encontram sem ocupação.
Na paróbola aparece o patrão que ao ver os trabalhadores desempregados às cinco da tarde concorda em levá-los mesmo quando eles serão inúteis no trabalho, só para lhes dar a dignidade, ao menos para lhes oferecer a oportunidade de ter um salário e sustentar sua família. Nós ouvimos como foi feito o acordo com os trabalhadores na primeira hora: uma quantidade de dinheiro será a sua recompensa. No momento do pagamento, o proprietário começa a pagar a partir dos últimos, dando-lhes a mesma quantia que tinha combinado com os primeiros. Então, pensaram os primeiros, a nós dará mais que o combinado. Entretanto, também esses recebem o mesmo que os últimos, ou seja, o que havia sido combinado. Ficam chateados, é claro, e murmuram entre si. Eles estão certos, podemos pensar, afinal esta atitude não está correta, pois muitos de nós com eles iríamos protestar, pedindo algum dinheiro a mais. Mas aquilo que receberam, no tempo de Jesus, era o salário mínimo diário, a fim de alimentar uma família... O patrão se preocupa e faz o bem. É bom e correto e depois revela a maldade escondida pelos primeiros trabalhadores. Antes da justiça existe a misericórdia, acima da lei e do contrato existe a atenção pela sobrevivência.
Aquele patrão sabe que os trabalhadores da última hora têm as mesmas necessidades dos outros; eles também têm filhos para alimentar, como há aqueles da primeira hora. Dando a todos o mesmo pagamento, o patrão mostra não só levar em conta os méritos, mas também a necessidade, diferentemente da mentalidade utilitarista, baseada exclusivamente em premiar o mérito (com frequência mais nominal que real) e pela antiguidade, e não sob as necessidades de cada pessoa. A parábola dos trabalhadores da vinha nos convida a encontrar um equilíbrio mais justo entre as duas exigências: do mérito e da necessidade.
No contexto da vinha do Senhor, neste domingo, 18 de setembro, recebemos em São Paulo, oriunda de Madrid, a Cruz e o ícone de Nossa Senhora, que vão peregrinar pelo Brasil e parte da América Latina em preparação à JMJ 2013 Rio de Janeiro. Que estes sinais da nossa fé nos animem a nos preparar condignamente para participar da Vinha do Senhor!
MCS - GO SDS - 09/2011
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